Adaptar um jogo como Minecraft para o cinema é, ao mesmo tempo, uma tarefa ambiciosa e um desafio conceitual. Não se trata de um enredo clássico a ser traduzido para as telas, mas de um universo em aberto, onde a narrativa é criada pelo próprio jogador. Um Filme Minecraft (2025), dirigido por Jared Hess e estrelado por Jason Momoa e Jack Black, tenta contornar esse vácuo criativo com uma história genérica de heróis deslocados em busca do caminho de casa. O resultado? Um filme que diverte, mas pouco constrói — ao menos no plano narrativo.
Minecraft é, acima de tudo, um símbolo de liberdade. O jogador cria, destrói, imagina. É um espaço de autoria e expressão. O filme, por outro lado, recorre à velha fórmula hollywoodiana do grupo improvável que precisa aprender a trabalhar em equipe. A estética cúbica está ali, os mobs conhecidos também. Mas a alma do jogo — a experimentação, a ausência de roteiro, a magia da descoberta — se dilui em piadas fáceis e diálogos superficiais.
Jack Black, como Steve, entrega carisma e timing cômico, talvez o elemento mais genuinamente divertido do longa. Jason Momoa, em um papel mais contido do que de costume, cumpre a função de herói-relutante, mas sem grandes destaques. A química entre os personagens é funcional, mas o enredo não permite grandes mergulhos emocionais. E é aí que reside o maior problema: em um universo que poderia inspirar infinitas possibilidades, a história opta pela previsibilidade.
Ainda assim, Um Filme Minecraft cumpre seu papel comercial com louvor. Atinge o público infantojuvenil com um ritmo ágil e visual colorido, e arrecadou mais de 800 milhões de dólares mundialmente. Mas essa performance não deve ser confundida com profundidade. O sucesso de bilheteria não invalida a pergunta essencial: o que estamos contando, quando escolhemos contar histórias baseadas em produtos que são, por essência, sobre criação livre?
O filme poderia ter ido além, apostando em uma narrativa mais simbólica sobre criatividade, identidade ou até mesmo isolamento digital — temas que fazem parte da experiência Minecraft. Ao invés disso, optou pelo conforto de um roteiro enlatado que, embora divertido, esvazia o potencial transformador da obra original.
Um Filme Minecraft não é um fracasso — é um reflexo. Reflete a tendência atual do cinema em transformar tudo em franquia, tudo em IP explorável, tudo em produto vendável. E, nesse reflexo, cabe ao espectador decidir se está apenas sendo entretido… ou se está, mais uma vez, vendo uma boa ideia ser empacotada até perder sua força.
