Durante décadas, o marketing direcionado ao público feminino se resumiu a um pacote cor-de-rosa recheado de estereótipos: a mulher vaidosa, emocional, dona de casa dedicada ou objeto de desejo. Mas o tempo passou — e as mulheres também. Elas ocupam cada vez mais espaços de liderança, de consumo e de influência social. E querem mais do que representações rasas: exigem marcas que as enxerguem como pessoas inteiras, diversas, reais.
A tese que se impõe é urgente: o marketing voltado ao
público feminino precisa abandonar estereótipos e adotar uma abordagem
empática, inclusiva e representativa, alinhada com os valores
contemporâneos de autenticidade, diversidade e protagonismo.
Pesquisas recentes da Nielsen e do IBGE mostram que as
mulheres já são maioria no Brasil e responsáveis por mais de 70% das decisões
de compra. Mas o marketing ainda falha em dialogar com a complexidade de suas
vivências. Um levantamento do guia Bits to Brands, apoiado pela WGSN,
destaca que as consumidoras estão mais conscientes e críticas, buscando marcas
que reflitam seus valores — e que rejeitam, cada vez mais, campanhas que
reforcem papéis de gênero ultrapassados.
A tendência é clara: autenticidade e narrativas reais
estão substituindo o marketing da perfeição inatingível. Campanhas que
mostram mulheres diversas — em idade, raça, classe, corpos e trajetórias — se
destacam não só pela representatividade, mas pela capacidade de gerar
identificação e conexão emocional. Isso é marketing com propósito, que entende
que vender não precisa ser sinônimo de manipular.
Mais do que uma exigência ética, essa transformação é
estratégica. Marcas que persistem em reforçar clichês de gênero tendem a sofrer
backlash e perder relevância. Basta lembrar o caso de campanhas recentes
criticadas por romantizarem a sobrecarga mental das mulheres ou limitarem sua
imagem a padrões estéticos excludentes. Por outro lado, marcas que se
posicionam com coragem e coerência, assumindo causas sociais e colocando
mulheres reais no centro da comunicação, conquistam lealdade e admiração.
Outro fator decisivo nessa mudança é o avanço da presença
feminina na liderança criativa e estratégica das agências e departamentos de
marketing. Quanto mais mulheres em posições de poder, mais chances de romper
com visões masculinas e homogêneas sobre o que é ser mulher — e mais espaço
para narrativas plurais, sensíveis e transformadoras.
No Centro-Oeste, essa movimentação também começa a ganhar
força. Iniciativas regionais valorizam a mulher sul-mato-grossense em sua
pluralidade — do campo à cidade, das empreendedoras às artistas, das mães às
ativistas — e mostram que a comunicação pode (e deve) ecoar a identidade local
com respeito e inovação.
Diante desse cenário, o marketing se vê desafiado a não
apenas seguir tendências, mas assumir responsabilidade social e cultural.
Representar mulheres com verdade não é apenas um bom negócio — é um passo
necessário rumo a uma sociedade mais justa, onde todas possam se ver, se
reconhecer e se sentir parte da narrativa.
Afinal, como bem apontam os movimentos contemporâneos, as mulheres não querem mais ser conquistadas pela publicidade — querem ser respeitadas por ela.
