sábado, 22 de março de 2025

Muito além do rosa

Durante décadas, o marketing direcionado ao público feminino se resumiu a um pacote cor-de-rosa recheado de estereótipos: a mulher vaidosa, emocional, dona de casa dedicada ou objeto de desejo. Mas o tempo passou — e as mulheres também. Elas ocupam cada vez mais espaços de liderança, de consumo e de influência social. E querem mais do que representações rasas: exigem marcas que as enxerguem como pessoas inteiras, diversas, reais.

A tese que se impõe é urgente: o marketing voltado ao público feminino precisa abandonar estereótipos e adotar uma abordagem empática, inclusiva e representativa, alinhada com os valores contemporâneos de autenticidade, diversidade e protagonismo.

Pesquisas recentes da Nielsen e do IBGE mostram que as mulheres já são maioria no Brasil e responsáveis por mais de 70% das decisões de compra. Mas o marketing ainda falha em dialogar com a complexidade de suas vivências. Um levantamento do guia Bits to Brands, apoiado pela WGSN, destaca que as consumidoras estão mais conscientes e críticas, buscando marcas que reflitam seus valores — e que rejeitam, cada vez mais, campanhas que reforcem papéis de gênero ultrapassados.

A tendência é clara: autenticidade e narrativas reais estão substituindo o marketing da perfeição inatingível. Campanhas que mostram mulheres diversas — em idade, raça, classe, corpos e trajetórias — se destacam não só pela representatividade, mas pela capacidade de gerar identificação e conexão emocional. Isso é marketing com propósito, que entende que vender não precisa ser sinônimo de manipular.

Mais do que uma exigência ética, essa transformação é estratégica. Marcas que persistem em reforçar clichês de gênero tendem a sofrer backlash e perder relevância. Basta lembrar o caso de campanhas recentes criticadas por romantizarem a sobrecarga mental das mulheres ou limitarem sua imagem a padrões estéticos excludentes. Por outro lado, marcas que se posicionam com coragem e coerência, assumindo causas sociais e colocando mulheres reais no centro da comunicação, conquistam lealdade e admiração.

Outro fator decisivo nessa mudança é o avanço da presença feminina na liderança criativa e estratégica das agências e departamentos de marketing. Quanto mais mulheres em posições de poder, mais chances de romper com visões masculinas e homogêneas sobre o que é ser mulher — e mais espaço para narrativas plurais, sensíveis e transformadoras.

No Centro-Oeste, essa movimentação também começa a ganhar força. Iniciativas regionais valorizam a mulher sul-mato-grossense em sua pluralidade — do campo à cidade, das empreendedoras às artistas, das mães às ativistas — e mostram que a comunicação pode (e deve) ecoar a identidade local com respeito e inovação.

Diante desse cenário, o marketing se vê desafiado a não apenas seguir tendências, mas assumir responsabilidade social e cultural. Representar mulheres com verdade não é apenas um bom negócio — é um passo necessário rumo a uma sociedade mais justa, onde todas possam se ver, se reconhecer e se sentir parte da narrativa.

Afinal, como bem apontam os movimentos contemporâneos, as mulheres não querem mais ser conquistadas pela publicidade — querem ser respeitadas por ela.