O outono chega e traz com ele uma
sensação diferente no ar. No dia 21 de março, o equinócio marca o momento em
que o dia e a noite têm a mesma duração, um instante de equilíbrio quase
mágico. Mabon, a celebração que honra essa transição no hemisfério sul, é como
um lembrete da natureza para desacelerarmos e prestarmos atenção ao que
realmente importa. Não importa se você nunca ouviu falar em Mabon antes. Se já
sentiu vontade de fazer uma pausa e agradecer pelas pequenas coisas, você já
entende a essência disso tudo.
A cada ano, o outono parece nos
dar um empurrãozinho sutil, como se fosse um roteiro de cinema que leva o
protagonista a se transformar. As cores das árvores mudam, o calor do verão dá
espaço a ventos mais frescos, e a natureza começa a descansar. Aqui no Brasil,
é diferente dos outonos que vemos nos filmes estrangeiros. Não temos folhas
vermelhas caindo em cascata, mas temos nosso próprio espetáculo de mudanças –
frutas amadurecendo, o som mais calmo das chuvas, e aquela brisa gostosa que
chega no fim da tarde.
Mabon é um convite para olhar
para trás e reconhecer o que construímos até agora. Sabe aquele momento numa
novela quando o personagem finalmente percebe o que importa? É exatamente isso.
É o instante de perceber que, no meio de tanta correria, algumas sementes que
plantamos começaram a dar frutos. Pode ser algo pequeno, como aquele projeto no
trabalho que deu certo, ou algo maior, como finalmente alcançar uma meta
pessoal. O importante é parar para reconhecer, porque o outono é sobre isso:
colher, agradecer e encontrar equilíbrio.
Tem uma coisa sobre o equinócio
que me encanta. Não é só sobre a luz e a escuridão dividindo espaço. É sobre o
que essa divisão simboliza. É como se a natureza nos dissesse que não
precisamos ser só uma coisa ou outra, que podemos ser um pouco de tudo. Podemos
ser luz e sombra, trabalho e descanso, movimento e pausa. E, no fundo, isso é
um alívio. Porque ninguém aguenta viver só no 220.
No dia a dia, é fácil esquecer
o quanto o equilíbrio é importante. A gente corre, acumula tarefas, tenta dar
conta de tudo, mas nunca para para respirar. E quando a gente não para, o corpo
e a mente começam a cobrar. Mabon é aquele momento do ano que nos lembra que
tudo bem dar um tempo, desacelerar. Que a vida, assim como a natureza, tem
ciclos, e respeitar isso é um jeito de cuidar de nós mesmos.
O que eu mais gosto em Mabon é
que ele não exige grandes rituais. Não precisa de cerimônias elaboradas ou
compromissos complicados. Dá para celebrar com algo simples, como cozinhar com
ingredientes da estação, reunir a família para uma refeição ou até passar
alguns minutos ao ar livre, ouvindo os sons da natureza. Gratidão e equilíbrio
podem ser encontrados nessas pequenas coisas, nesses detalhes que a gente
costuma ignorar.
E falando em gratidão, é
curioso como às vezes a gente só percebe o que tem de bom quando para para
olhar de verdade. Não precisa ser algo grandioso. Pode ser aquela sensação de
paz ao ver as plantas da sua varanda crescendo ou a alegria de ouvir uma música
que te faz sorrir. Mabon nos convida a valorizar esses momentos, porque eles
são o que realmente importa.
Enquanto o outono avança, a
natureza nos ensina que é preciso deixar ir para abrir espaço para o novo. As
árvores deixam suas folhas caírem, os campos ficam mais tranquilos, e tudo
parece respirar mais devagar. É uma lição que podemos levar para a vida. O que
precisamos deixar para trás? O que não serve mais? Talvez seja hora de abrir
espaço, de deixar as folhas caírem.
No dia 21 de março, quando o
dia e a noite dividirem o céu igualmente, aproveite para refletir. Não precisa
de um grande discurso ou um momento super elaborado. Basta uma pausa para olhar
para dentro, reconhecer suas colheitas e se permitir agradecer. No fim, Mabon é
isso: um lembrete sutil de que a vida fica melhor quando a gente encontra o
nosso próprio equilíbrio.
