segunda-feira, 5 de maio de 2025

Opinião não é fato


Vivemos em uma era em que a frase “eu tenho direito à minha opinião” se tornou escudo para todo tipo de afirmação — das mais legítimas às mais perigosas. Mas é preciso lembrar: sim, todos têm direito à sua opinião. Mas nenhuma opinião tem o direito de ser tratada como fato sem ser verificada. E essa confusão não é apenas um erro conceitual — é um risco à convivência democrática, ao jornalismo, à ciência e ao próprio pensamento crítico.

Opinião é uma interpretação, uma leitura subjetiva da realidade. Ela pode ser baseada em valores, crenças, preferências, experiências. Já o fato é algo que, por definição, aconteceu ou acontece, e que pode ser comprovado por evidência confiável. O problema começa quando essa fronteira é ignorada — seja nas redes sociais, nas conversas de bar ou nos discursos de figuras públicas.

Dizer, por exemplo, que “vacinas causam doenças” não é uma opinião — é uma afirmação factual falsa, já desmentida pela ciência. Achar que “as vacinas foram criadas muito rápido” pode até ser uma dúvida legítima, mas transformá-la em certeza sem base é desinformação. O mesmo vale para o clima, a política, a história e tantas outras áreas em que opiniões sem respaldo ganham status de “verdade alternativa”.

Essa confusão também se vê em ambientes acadêmicos e jornalísticos. Uma reportagem de qualidade não é espaço para achismos — exige fontes, checagem, contextualização. Já um artigo de opinião, como este, deve deixar claro desde o início que se trata de um ponto de vista, ainda que embasado em dados. Ética e responsabilidade passam por reconhecer a natureza do que se diz.

A internet potencializou esse dilema: todos podem se expressar, mas nem todos compreendem que informar é diferente de opinar. E o pior: algoritmos premiam engajamento, não precisão. Quanto mais polêmica, mais alcance. E quanto mais alcance, mais difícil distinguir o que é verdade do que é apenas “o que eu acho”.

Isso não significa que opiniões devam ser silenciadas — pelo contrário. Opinar é essencial para o debate democrático. Mas é justamente por isso que precisamos educar para a diferença entre opinar e informar. Precisamos de cidadãos que saibam argumentar com base, duvidar com método e reconhecer quando é hora de ouvir os dados — e não apenas os sentimentos.

A escola, o jornalismo e a própria cultura digital precisam promover esse discernimento. Porque a liberdade de expressão só é plena quando acompanhada da responsabilidade de não distorcer os fatos para acomodar convicções. O mundo já tem opiniões demais. O que falta, muitas vezes, é humildade para mudar de opinião diante dos fatos.

E isso, sim, é sinal de maturidade.