Enquanto muitos estão pensando em festas de maio, aqui no Hemisfério Sul,
uma celebração silenciosa e ancestral ecoa sob a luz suave da lua: o Samhain,
o Ano Novo das Bruxas. Celebrado entre 30 de abril e 1º de maio,
esse sabá não é apenas uma data no calendário wiccano; é um convite para
pausar, respirar fundo e mergulhar dentro de si. É o momento de se conectar com
nossos ancestrais, honrar o que passou e preparar o coração para o novo que
virá.
Ao contrário da imagem clichê das bruxas voando em vassouras ou mexendo
caldeirões borbulhantes, Samhain é uma celebração de silêncio e profundidade.
Marca o fim do ciclo da colheita e o início do período mais escuro do ano,
quando a natureza repousa, as folhas caem e a terra, silenciosa, se prepara.
Dizem que é nessa época que o véu entre o mundo dos vivos e o dos
mortos fica mais fino. É quando sentimos, quase como um sussurro, a
presença daqueles que vieram antes de nós. É tempo de lembrar, de agradecer, de
aprender com as histórias que eles deixaram.
Mas Samhain não é só sobre saudade ou despedidas. É também um convite para o
autoconhecimento. Em meio à escuridão, encontramos um espaço
para olhar para dentro, para refletir sobre o que precisamos deixar ir e o que
queremos carregar conosco. Quais hábitos ou relações já não nos servem mais?
Que sonhos precisam ser plantados agora para florescerem quando a luz voltar?
Aqui no Brasil, onde as estações não são tão marcadas quanto em outros
lugares, é fácil se desconectar desse ciclo natural. Mas, se pararmos para
observar, percebemos que a natureza ao nosso redor também muda. As folhas
secam, o clima esfria, e o ritmo da vida diminui. E nós? Quantas vezes nos
sentimos fora de compasso, tentando acompanhar um ritmo que não é o nosso?
Samhain é o momento de reconectar com o ritmo da natureza e,
principalmente, com o nosso próprio ritmo interno.
Na cultura popular, Samhain muitas vezes se mistura com o Halloween,
aquele festival de fantasias e doces celebrado em 31 de outubro no Hemisfério
Norte. Mas, para nós aqui no Sul, faz mais sentido ajustar essa roda e celebrar
o fim do ciclo no nosso outono. Afinal, é agora que a natureza também começa a
se recolher, preparando-se para o inverno.
Você não precisa de grandes rituais para sentir a energia dessa data. Pequenos
gestos fazem toda a diferença: acender uma vela em homenagem aos seus
ancestrais, escrever sobre o que você deseja deixar para trás, meditar sobre as
lições que a vida trouxe no último ano ou, simplesmente, silenciar o mundo ao
seu redor e ouvir sua própria voz. Samhain é sobre isso: encontrar significado
no simples, no cotidiano.
Vivemos em um mundo que nos empurra constantemente para a pressa, para a
produtividade desenfreada, para o "próximo". Mas parar para refletir,
para honrar o que foi, é um ato de coragem. Samhain nos ensina que o fim não é
algo a ser temido; é uma parte essencial da jornada. Porque é no espaço deixado
pelo que se foi que o novo encontra lugar para nascer.
Então, enquanto o calendário comum marca mais um dia qualquer, aqueles que
celebram o Samhain sabem: às vezes, é preciso abraçar a escuridão para
descobrir onde realmente está a luz.
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