terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Somos heróis de nós mesmos, mas vilões no mundo dos outros



“Ninguém pensa que está errado. É o que nos torna vilões em histórias de outras pessoas.” Essa frase de Os Infiltrados expõe uma verdade desconfortável sobre a humanidade. Todos gostamos de acreditar que nossas escolhas são as melhores, que estamos do lado certo. Mas a busca incessante por poder e dinheiro – tanto em grandes potências quanto no dia a dia das pessoas comuns – nos mostra o contrário. No fundo, o que realmente está em jogo não é "estar certo", mas como cada um pode conquistar mais espaço, controle e influência.

Isso começa no micro, em nossas relações mais próximas. Dentro de famílias, igrejas, grupos de trabalho ou em qualquer outro círculo social, o poder assume formas diferentes, mas não menos relevantes. É o pai autoritário que impõe sua vontade, o líder religioso que usa a fé para controlar fiéis, o chefe que exerce autoridade sobre os subordinados, ou até mesmo o amigo que manipula para se colocar em vantagem. Quanto mais poder alguém acumula, mais cria hierarquias invisíveis, colocando outros em posições de inferioridade. E nessa lógica, o dinheiro é muitas vezes a ferramenta que reforça essas relações de poder, criando um abismo entre quem pode mais e quem "merece menos".

Essa busca por controle e status alimenta discursos de exclusão. Racismo, homofobia, xenofobia, machismo – todas essas narrativas nascem da necessidade de reafirmar a superioridade de um grupo sobre outro. É uma forma de manter poder e privilégio, de garantir que sempre haverá "inferiores" para validar a posição dos "superiores". Esses discursos não surgem por acaso; eles são ferramentas para manter sistemas de opressão funcionando, tanto no micro quanto no macro.

No cenário global, essa lógica é ampliada. governos e corporações tomam decisões não com base no bem coletivo, mas no que fortalece sua posição. Países disputam recursos, influências econômicas e poder militar, enquanto mascaram suas ações com discursos de "progresso" ou "segurança". É a mesma dinâmica que vemos em menor escala em nossas relações cotidianas, só que em proporções que impactam o futuro do planeta e das próximas gerações.

No entanto, essa luta por poder e dinheiro nos coloca em um ciclo vicioso. Quanto mais buscamos controle, mais destruímos a possibilidade de coexistência. O racismo, por exemplo, fragmenta a sociedade, enquanto a homofobia e o machismo desvalorizam talentos e vozes que poderiam contribuir para um mundo mais justo. No plano ambiental, a exploração desenfreada de recursos para enriquecer alguns poucos destrói o equilíbrio do planeta, afetando todos nós – inclusive aqueles que estão no topo da hierarquia.

E aqui surge uma pergunta importante: estamos realmente agindo como "humanidade"? Ou estamos presos em um jogo egoísta, correndo atrás do próprio rabo enquanto destruímos o futuro? Ironicamente, os animais que chamamos de irracionais vivem em maior harmonia com seus ambientes do que nós. Criamos sistemas para concentrar poder e riqueza, mas somos incapazes de perceber que, ao fazê-lo, sacrificamos o equilíbrio e o bem-estar coletivo.

Se quisermos mudar, precisamos começar reconhecendo como essas dinâmicas nos afetam no dia a dia. Não é apenas sobre grandes líderes ou corporações – é sobre como agimos em nossos círculos, como usamos o poder que temos e como tratamos os outros. No fundo, ser herói de si mesmo não basta. Precisamos nos perguntar como nossas ações impactam o mundo ao nosso redor. Só assim deixaremos de ser os vilões na história do futuro.

Porque, no fim, os verdadeiros heróis não são aqueles que acumulam mais poder ou dinheiro, mas os que conseguem enxergar além de si mesmos e escolhem agir de forma diferente. Se não mudarmos, continuaremos correndo atrás do próprio rabo, enquanto o mundo ao nosso redor se despedaça.