O dia dois de fevereiro marca um momento de reflexão e conexão com os ciclos da natureza no hemisfério sul. Para muitos, especialmente na Wicca, é o dia em que celebramos Lammas ou Lughnasadh, a primeira colheita do ano. Um momento de agradecer pela fartura, de reconhecer o esforço necessário para alcançar conquistas e de renovar a nossa relação com a terra e tudo o que ela nos oferece. Mas será que esses conceitos fazem sentido para quem está mais preocupado com os boletos do mês ou com o próximo episódio da sua série favorita? Vamos descobrir.
Lammas, que literalmente significa missa do pão, é um lembrete simbólico e prático de que tudo na vida segue ciclos. O pão, principal símbolo dessa celebração, não aparece do nada. Ele começa como uma semente, que precisa ser plantada, cuidada, colhida, transformada em farinha e finalmente assada. É um processo longo, que exige paciência e dedicação, mas que no final recompensa com o alimento essencial para a vida. E não é exatamente assim com tudo o que fazemos? Quer um aumento no trabalho? Precisa investir em estudo e dedicação. Quer um relacionamento saudável? É preciso regar com paciência, comunicação e carinho. Nada floresce sem cuidado, e essa é a grande lição que Lammas nos oferece.
Vivemos num mundo onde as coisas acontecem num piscar de olhos. Pedimos comida pelo aplicativo e ela chega em minutos. Maratonamos séries inteiras no final de semana porque não temos paciência para esperar os episódios saírem um por vez. Mas, enquanto tudo parece estar ao nosso alcance, estamos nos desconectando de algo essencial: o ritmo natural das coisas. Lammas é um lembrete poderoso de que existe um tempo para plantar, outro para colher, e um muito necessário para descansar. É sobre voltar a respeitar o tempo que cada etapa da vida exige.
Gratidão é uma palavra que anda por aí em todos os cantos, muitas vezes de forma superficial. Quantas vezes ouvimos frases como acorde agradecendo que o universo resolve? Mas Lammas nos ensina uma gratidão que vai além do discurso pronto. Não se trata apenas de agradecer pelo que temos, mas de reconhecer o esforço que foi necessário para chegar onde estamos. É honrar o trabalho, o tempo e até as dificuldades que enfrentamos no caminho. É aquele sentimento de alívio ao quitar uma dívida, o orgulho ao ver uma planta que você achava que ia morrer florescer no verão, ou até a alegria de cozinhar algo simples com carinho e dividir com quem você ama. Gratidão é sobre essas pequenas vitórias cotidianas.
Mesmo que você não siga práticas pagãs, os ensinamentos de Lammas são universais. Quando foi a última vez que você parou para pensar no que realmente conquistou até agora? Não precisa ser nada grandioso. Pode ser algo pequeno, como conseguir dormir melhor depois de semanas de insônia ou aprender a fazer aquela receita que parecia impossível. É sobre reconhecer que estamos sempre plantando algo, mesmo sem perceber, e que as colheitas vêm nas formas mais inesperadas.
O mais interessante é que essa celebração não precisa ser sobre grandes rituais ou cerimônias. Pode ser tão simples quanto preparar um pão caseiro ou plantar uma erva em um vasinho. Esses gestos pequenos nos conectam de volta ao ritmo da natureza, ao ciclo de plantar, cuidar e colher. Mais do que isso, eles nos lembram que a fartura não é só material. Ela também é emocional, espiritual e, principalmente, comunitária. É quando dividimos um pedaço do nosso pão, seja ele literal ou metafórico, que realmente entendemos o que é abundância.
Em tempos de correria e distração, Lammas é quase um ato de resistência. Parar, respirar e reconhecer o que temos de bom é um gesto que parece pequeno, mas é poderoso. É uma forma de dizer para o mundo que não precisamos viver em um ritmo frenético o tempo todo. Que está tudo bem respeitar nosso próprio ritmo, como a terra respeita os dela. Então, nesse dia dois de fevereiro, que possamos celebrar mais do que a fartura da terra. Que possamos celebrar as nossas pequenas vitórias, as sementes que plantamos e as colheitas que ainda estão por vir. Porque, no final, é isso que nos mantém conectados com o que realmente importa.
