O cinema de terror não é só um gênero de sustos baratos e criaturas assustadoras. Ele é um reflexo da sociedade, um espelho dos nossos medos mais profundos e um termômetro cultural que acompanha (e muitas vezes antecipa) as inquietações do seu tempo. Desde os primeiros filmes mudos, como Nosferatu (1922) e O Gabinete do Dr. Caligari (1920), o terror usou sombras, distorções e silêncios para criar tensão e provocar o imaginário. Nessa época, a galera já saía do cinema olhando para os cantos escuros da rua.
Nos anos 1930, Hollywood percebeu que criaturas como Drácula, Frankenstein e o Homem Lobo vendiam ingressos como água. Não eram apenas monstros aleatórios, mas metáforas para os medos da ciência descontrolada e da repressão social. Quando os anos 1950 chegaram, a paranoia da Guerra Fria fez com que os filmes refletissem o medo do outro, da invasão e do desconhecido. Vampiros de Almas (1956) abordava o medo da manipulação governamental, enquanto Godzilla (1954) personificava o trauma nuclear. Medo da bomba atômica? Nada como um lagarto gigante destruindo cidades para dar o recado.
Na década de 1960, o terror ficou mais psicológico e pessoal. Hitchcock, em Psicose (1960), mostrou que o verdadeiro horror pode estar na pessoa ao lado, não em castelos mal-assombrados. Em A Noite dos Mortos-Vivos (1968), George Romero fez muito mais do que popularizar zumbis devoradores de carne humana; ele criticou a sociedade americana, abordou racismo e a hipocrisia social sem precisar dar um discurso. Já nos anos 1970, o medo entrou dentro de casa: O Exorcista (1973) e O Iluminado (1980) mostraram que, às vezes, os piores horrores não estão lá fora, mas na nossa própria mente e família.
Nos anos 1980, o gênero se jogou de vez na violência e no exagero visual. Os "slashers" dominaram as telas, com psicopatas icônicos como Freddy Krueger, Jason Voorhees e Michael Myers. Cada um com sua assinatura: facão, luvas afiadas, perseguições infinitas. O Brasil também teve seu momento de brilho com José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que trouxe um terror cheio de misticismo e um toque bem brasileiro ao gênero. Já os anos 1990 viram o terror se autoironizar: Pânico (1996) fez piada com os clichês, e os espectadores adoraram ver os próprios tropos sendo questionados na tela.
Chegando aos anos 2000, a tecnologia entrou em cena, e os filmes de terror decidiram brincar com isso. O found footage (A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal) colocou o público dentro do horror, como se tudo estivesse realmente acontecendo. E olha que funcionou: Atividade Paranormal custou só US$ 15 mil e arrecadou cerca de US$ 194,2 milhões. Se isso não é terror, não sei o que é. Sem falar nas franquias como O Exorcista e Invocação do Mal, que continuam rendendo bilhões.
Nos últimos anos, o terror ficou ainda mais sofisticado. Saiu da simplicidade dos sustos fáceis e começou a explorar camadas mais profundas, como racismo, luto e trauma. Corra! (2017) expôs o racismo estrutural, O Babadook (2014) e Hereditário (2018) usaram o horror para falar de saúde mental, e Midsommar (2019) mostrou que até um retiro espiritual pode ser assustador. E o público respondeu: M3GAN (2023) e Sobrenatural: A Porta Vermelha (2023) arrecadaram juntos mais de US$ 360 milhões globalmente.
O terror moderno é um gênero que se recusa a morrer (sim, como os vilões de filme slasher). Ele é uma máquina de bilheteria e uma plataforma poderosa para discussões sociais. Ele nos assusta, nos faz pensar e, acima de tudo, nunca sai de moda. O medo sempre se reinventa, porque, no fundo, amamos sentir aquele frio na espinha. E se você acha que não, tente dormir depois de ver um bom filme de terror.