domingo, 11 de maio de 2025

Mãe é força ancestral

 

Nem toda mãe é de sangue — mas toda mãe é portal. Na Wicca, caminho espiritual que honra a natureza e seus ciclos, a figura materna não é apenas biológica: ela é simbólica, arquetípica, energética. Ela representa a vida em sua plenitude, a nutrição, a proteção e o poder de criar, sustentar e transformar. Em um mundo que tantas vezes reduz a maternidade ao papel doméstico e ao laço genético, a bruxaria amplia: toda mulher que acolhe, protege, ensina e transforma carrega em si a centelha da Deusa Mãe.

Na Tradição Wiccana, a Deusa é tríplice: Donzela, Mãe e Anciã — representando as fases da lua e os ciclos da vida. A Mãe, associada à Lua Cheia, é o aspecto da fertilidade, do crescimento e do amor incondicional. Ela é a Terra em seu ápice de abundância, a força que gera e nutre. Mas essa maternidade não está presa ao útero: ela vive no coração, na intuição, nos gestos de cuidado e nas palavras que curam.

Muitas pessoas que seguem o caminho da bruxaria — especialmente mulheres — encontram figuras maternas fora da linhagem sanguínea. São mães de alma, mães de escolha, mães de caminhada. São bruxas mais velhas que iniciam, que amparam, que guiam com paciência. São amigas que se tornam fonte, irmãs que viram chão, parceiras que iluminam. A maternidade, na Wicca, é sobre energia. Sobre presença. Sobre vínculo.

A Deusa Mãe ensina que o maternar é um estado de consciência, e não uma função social. Ela se manifesta nas mulheres que se recusam a repetir padrões de dor, nas que criam comunidades, nas que curam com as mãos e com a palavra, nas que semeiam liberdade nos caminhos de outras. Ela se revela na mulher que acolhe a própria criança interior, que honra seus ciclos, que protege sem oprimir e ama sem possuir.

Em rituais da Roda do Ano — como Beltane, Lammas e Ostara — celebramos a fertilidade da terra, mas também a fertilidade de ideias, projetos e afetos. A mãe é aquela que dá forma ao invisível. Que transforma energia em realidade. Que faz da escuta um altar e da palavra, um feitiço. No altar da bruxa, a imagem da Deusa Mãe nos lembra que criar é um ato mágico, e que toda maternidade, seja ela literal ou simbólica, é sagrada.

Falar de mãe, portanto, não é falar apenas da mulher que nos pariu, mas da que nos acolheu, nos ensinou a olhar para a lua e a confiar no tempo. É lembrar que há muitas formas de gestar e parir — uma ideia, um vínculo, uma cura, um caminho. Na Wicca, aprendemos que toda forma de cuidado é também uma forma de magia. E toda mulher que cuida — de si, dos outros, do mundo — carrega em si a Deusa.

Nem toda mãe tem filhos, mas toda mãe tem um poder: o de gerar transformação. E essa é, talvez, a essência mais profunda da bruxaria.