O oceano já não chama com a mesma força. Oito anos depois do impacto cultural e emocional de Moana (2016), a Disney retorna com uma continuação que, embora visualmente esplêndida, parece presa ao formato que tanto busca renovar. Moana 2 é uma experiência agridoce: entrega técnica impecável, mas escorrega justamente no que fez do primeiro filme um marco — a autenticidade da jornada, a potência simbólica da protagonista e a originalidade narrativa.
Desta vez, Moana, agora mais velha e experiente, parte em uma nova missão para restaurar a ilha perdida de Motufetu. A premissa, à primeira vista, parece promissora. No entanto, a execução revela uma história que se aproxima mais da estrutura episódica de uma série do que de um longa-metragem coeso. Há momentos tocantes, sim, mas também muitos atalhos, diálogos apressados e desenvolvimentos pouco explorados. A aventura segue, mas sem o mesmo brilho da descoberta — parece que, desta vez, o oceano já conhece demais os caminhos.
Um dos maiores pontos de comparação inevitável está na trilha sonora. Em 2016, as músicas de Lin-Manuel Miranda foram responsáveis por transformar emoções em hinos geracionais. Quem não se arrepiou com “How Far I’ll Go”? Em Moana 2, as canções compostas por Abigail Barlow e Emily Bear são funcionais, mas não memoráveis. “Get Lost” é um destaque isolado em meio a uma trilha que não consegue, desta vez, contar a história por si só — uma falha significativa em um musical de animação.
Ainda assim, é preciso reconhecer os méritos da sequência. A animação atinge um novo nível de detalhamento, com paisagens que exaltam a cultura polinésia e cenas de tirar o fôlego. A representatividade continua sendo um trunfo importante, mantendo viva a valorização de um imaginário que por muito tempo foi apagado ou estereotipado no cinema mainstream. Nesse sentido, Moana 2 cumpre uma função simbólica poderosa: a de afirmar culturas ancestrais como protagonistas da própria narrativa.
Mas a pergunta que ecoa é: precisava de uma continuação? Ou melhor, essa continuação precisava ser feita assim? Ao seguir a lógica da franquia segura, a Disney parece ter escolhido o caminho menos arriscado — e, portanto, menos inventivo. Moana merecia uma nova jornada que ampliasse seu universo não só em geografia, mas em profundidade.
Moana 2 não é um fracasso, longe disso. É um filme bonito, bem-intencionado e tecnicamente admirável. Mas falta-lhe alma de travessia. Falta a surpresa da primeira vez. Falta a coragem de navegar onde a maré não leva por si só. Talvez seja hora de lembrar o que o oceano nos ensinou: que é preciso ousar sair do porto, mesmo que o horizonte pareça distante.
