O recente depoimento de Mark Zuckerberg ao Senado
norte-americano trouxe à tona questões fundamentais sobre a governança de dados
e o papel das grandes corporações digitais na regulação de conteúdo e proteção
do usuário. Entre as declarações mais polêmicas, está a decisão de descontinuar
filtros automáticos de moderação e encerrar o programa de checagem de fatos por
terceiros nos Estados Unidos, privilegiando uma abordagem mais reativa baseada
em denúncias. Embora a Meta alegue que tais medidas reduzem censura indevida,
especialistas temem que possam ampliar significativamente a disseminação de
desinformação, discursos de ódio e propaganda enganosa.
Essas alterações destacam a complexidade de harmonizar
liberdade de expressão com regulações locais. No Brasil, legislações como a Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Marco Civil da Internet impõem diretrizes
claras sobre a responsabilidade das plataformas em mitigar conteúdos
prejudiciais e proteger os direitos dos usuários. O descumprimento dessas
normas pode acarretar não apenas sanções legais, mas também prejuízos
reputacionais que comprometem a sustentabilidade das marcas envolvidas.
No âmbito da publicidade, a governança de dados continua a
ser uma questão central. Campanhas que se valem de informações coletadas de
forma ética e transparente têm maior chance de engajar consumidores e
fortalecer relações de confiança. Estudos do Interactive Advertising Bureau
(IAB Brasil) confirmam que a personalização bem aplicada é um diferencial
competitivo, desde que respeite os limites impostos pela legislação e os
princípios éticos.
O impacto das medidas anunciadas por Zuckerberg também
coloca em xeque o compromisso das plataformas digitais com a experiência do
usuário. Ao reduzir a moderação automática, a Meta corre o risco de transformar
suas redes em espaços vulneráveis à proliferação de conteúdo nocivo. Essa
escolha não apenas mina a confiabilidade da plataforma, mas também pressiona
reguladores em mercados globais a reforçarem as exigências de conformidade
legal. No Brasil, o Ministério Público Federal já requisitou esclarecimentos da
Meta sobre como tais mudanças se alinham às obrigações legais locais.
No contexto acadêmico, a formação de publicitários precisa
acompanhar essas transformações. Instituições de ensino superior devem integrar
aos currículos o estudo crítico de legislações, ética digital e práticas de
mercado responsáveis. Mais do que dominar técnicas criativas, os futuros
profissionais devem ser preparados para atuar como agentes de mudança,
promovendo soluções inovadoras que respeitem os direitos fundamentais e
fortaleçam o mercado publicitário.
Ao final, o depoimento de Zuckerberg simboliza não apenas um
ajuste político nas estratégias da Meta, mas também um ponto de inflexão na
relação entre tecnologia e sociedade. O mercado publicitário, em particular,
deve aproveitar essa oportunidade para liderar o caminho rumo a uma abordagem
mais ética e transparente. O desafio é não apenas cumprir normas, mas também
reconquistar a confiança do público em um cenário cada vez mais dinâmico e
exigente.
Danielle Leduc - coordenadora do curso de Publicidade
e Propaganda da AEMS. Publicitária formada na Universidade Católica de Pelotas
e especialista em Marketing, Estratégia e Inovação pelo Centro Universitário
Internacional Uninter.
