quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Le Monde abandona o X e redefine o jogo digital


Ima
gine um protagonista de novela que, cansado de tanta confusão, decide abandonar tudo e recomeçar. É mais ou menos assim que soa a decisão do Le Monde de sair do X, antigo Twitter. Em um mundo onde todo mundo quer estar presente em todos os lugares, essa saída soa como uma grande ruptura, quase como aquele momento em que o mocinho decide virar a mesa e seguir seus valores. Mas será que isso foi um ato de coragem genuína ou uma estratégia de marketing daquelas de cair o queixo?

Segundo o jornal francês, a justificativa é bem clara. Eles afirmaram que as mudanças na moderação de conteúdo da plataforma, agora sob a batuta de Elon Musk, abriram as portas para o aumento de discursos de ódio e desinformação. Para uma publicação que preza pela ética e pela qualidade editorial, isso não dá para engolir. É como se eles estivessem dizendo: “não dá para ser sério e continuar nessa festa descontrolada”. Para muitos, isso parece uma atitude louvável, digna de aplausos de pé. Mas, ao mesmo tempo, não dá para ignorar que uma decisão dessas também gera barulho e pode colocar o jornal no centro das atenções.

É impossível não pensar que essa saída também é uma excelente jogada para reforçar a marca. O Le Monde tem uma reputação sólida e é conhecido pela seriedade de seu jornalismo. Ao abandonar o X, o jornal se posiciona como um bastião da ética em tempos de caos digital. E convenhamos, essa postura só aumenta o respeito que muitos já têm pela publicação. É quase como um ator premiado que decide recusar um blockbuster de ação para fazer um filme de arte com mensagens profundas. É o tipo de escolha que, mesmo arriscada, pode render aplausos.

Mas será que é só isso? Porque, no mundo da comunicação, nada é feito sem estratégia. Ao sair do X, o Le Monde não só levanta uma bandeira ética, como também atrai os holofotes. Afinal, não é todo dia que um dos maiores jornais do mundo dá adeus a uma plataforma com milhões de usuários. E, ironicamente, essa saída viraliza e gera mais engajamento. É como se a atitude de sair criasse uma nova forma de conexão com o público. E isso, para quem trabalha com comunicação, é uma sacada genial.

No entanto, não dá para esquecer que toda escolha tem seu preço. Sair do X significa perder acesso direto a milhões de leitores. Em tempos de redes sociais dominando a forma como consumimos informação, isso é um baque. A interação direta diminui, o alcance orgânico é reduzido, e novos públicos podem ser mais difíceis de atingir. É como um jogador que sai de campo durante o segundo tempo de um jogo decisivo. Pode ser interpretado como uma atitude corajosa, mas também como um movimento arriscado demais.

A decisão de Le Monde também nos faz pensar no papel das empresas e instituições em tempos de crise digital. Afinal, o que é mais importante? Estar presente em todos os lugares, mesmo em plataformas que vão contra os valores da sua marca, ou traçar um limite claro e se posicionar? A saída do jornal pode ser vista como uma forma de resistência, como quem diz “não compactuamos com isso”. E, nesse sentido, o Le Monde faz mais do que um gesto isolado – ele provoca reflexões em outras marcas e instituições sobre qual deve ser o papel delas nesse cenário.

Claro que tem um outro lado da moeda. Abandonar o X pode ser visto por alguns como jogar a toalha, desistir de um espaço onde o diálogo ainda é necessário. Mesmo com todos os problemas, o X ainda é uma plataforma usada por milhões de pessoas no mundo todo, inclusive por quem busca informação de qualidade. Será que sair do jogo é realmente a melhor solução? Ou seria mais estratégico continuar e tentar fazer a diferença dentro da própria arena?

No fim das contas, a saída do Le Monde é uma mistura de consciência civil e marketing bem planejado. Eles mostraram que têm valores e que não estão dispostos a abrir mão deles, mesmo que isso signifique sacrificar o alcance em uma das maiores redes sociais do mundo. Ao mesmo tempo, a decisão atrai atenção, fortalece a imagem do jornal e até mesmo inspira outros a repensarem suas escolhas. É como aquele final de filme em que o herói toma uma decisão difícil, mas sai de cabeça erguida.

E para nós, espectadores desse grande espetáculo digital, fica a pergunta: será que estamos prontos para valorizar mais as marcas e instituições que colocam a ética acima do alcance? Porque, se queremos um ambiente digital mais saudável, decisões como essa precisam de apoio, e não apenas de aplausos. Afinal, todo protagonista precisa de uma plateia que entenda e valorize seu papel.